O problema do mercado editorial está no modelo de negócios
Ricardo Almeida é CEO da plataforma de autopublicação Clube de Autores
Por Ricardo Almeida
Ultimamente, muito se fala em crise no mercado editorial brasileiro. É possível acompanhar tudo isso por meio de reportagens que mostram como o setor literário tem registrado constantes quedas nas vendas. Para piorar, a imprensa tem dado destaque à recuperação judicial das duas maiores livrarias do país. Diante de todo esse cenário, de fato, pode parecer que o segmento passa por dificuldades. Mas, na verdade, o problema está no modelo de negócios adotado na venda das publicações.
O discurso pode parecer algo um tanto otimista ou fora da realidade. Na verdade, os fatos concretos relacionados ao ramo vão ajudar a comprovar que essa minha tese relacionada ao universo dos livros está correta. A conjuntura econômica ruim dos últimos anos realmente derrubou o volume de vendas nos estabelecimentos do gênero. A partir daí, as maiores redes do ramo passaram a atrasar os pagamentos às editoras.
Só para esclarecer, as maiores livrarias brasileiras adotam um modelo de negócio conhecido como consignação. A modalidade funciona da seguinte forma: as editoras enviam grandes quantidades de exemplares impressos para as lojas sem receber absolutamente nada num primeiro momento. As redes do setor apenas abrem espaços em suas prateleiras para que os livros fiquem expostos aos consumidores.
As editoras sempre enviavam seus livros para receberem somente após a venda destes títulos. Esse estoque parado não é bom para ninguém, é um desperdício de espaço e de dinheiro. É muito mais inteligente e econômico imprimir sob demanda.
Com o agravamento da crise, as livrarias deixaram de repassar o valor da consignação, após a venda efetiva, para quem produziu as publicações. Dessa forma, gerou-se praticamente um efeito cascata diante dessa modalidade de negócio usado no mercado literário. Sem dinheiro, o volume de lançamentos caiu drasticamente. Consequentemente, menos livros eram entregues para comercialização. E, dessa forma, a queda nas vendas de publicações também registrou forte queda em volumes de novas publicações.
Por outro lado, toda essa situação também serviu para o setor buscar novos modelos de negócio, inclusive, com o uso da tecnologia para que a venda de livros se tornasse mais rentável. Hoje, é possível fazer a publicação gratuita dos livros em que a impressão se baseia totalmente na demanda de venda, por meio do uso de uma plataforma online. Nela, o autor se auto publica e disponibiliza sua obra para todo o mundo. Fora isso, a pessoa escolhe quanto quer ganhar em cada unidade comercializada.
Com o uso dessa solução, também se garante a impressão apenas quando algum exemplar é vendido tanto no site que abriga a plataforma, quanto nos espaços virtuais de seus respectivos parceiros. Ou seja, ninguém perde com isso, ao contrário da modalidade tradicional por consignação, que dentro deste modelo de negócios tradicional, as editoras foram as maiores prejudicadas com o calote das livrarias.
Por essas e outras, o mercado livreiro baseado em autopublicação tem se mostrado bastante eficiente. A mais recente pesquisa divulgada pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) que apontou um aumento de 19,2% no faturamento de vendas do setor. Com certeza, o bom desempenho se deve às alternativas existentes no mercado literário.
Dados de empresas do setor comprovam que a nova modalidade por demanda utilizada pelo segmento também garante uma rentabilidade 30% maior se comparado com o adotado no mercado tradicional, onde estão as livrarias em processo de recuperação. Não gosto de dizer que o mercado editorial em si está em crise, até porque os brasileiros continuam consumindo e lendo até mais do que antes.
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